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Uma perspectiva psicanalítica sobre a perda de um amor.

  • Foto do escritor: Marilia Antunes
    Marilia Antunes
  • 29 de jul. de 2023
  • 2 min de leitura

Atualizado: 24 de ago. de 2023

Muitas pessoas chegam pela primeira vez ao consultório depois de um rompimento amoroso, em especial quando o amor acaba para o outro, mas continua vivo em uma das partes. Atravessadas pelo luto da perda do objeto amado, vivenciam os mais diferentes sentimentos: raiva, frustração, solidão, culpa, tristeza. Apesar da diversidade de experiências relacionadas ao desenlace, buscam formas, de preferência rápidas, de se livrar do sofrimento em uma sociedade de consumo que nos torna avessos à falta.

Mas por trás da queixa, o que de fato está em jogo quando uma relação chega ao fim? Como afirma Lacan, amar é dar o que não se tem. Quando o objeto vai embora, o que fazer com a nossa falta que estava depositada no outro? A sensação de vazio que fica é imensa, e não apenas o vazio deixado pela ausência da pessoa amada, mas pela perda do que representávamos para esse alguém. A expressão "ficar sem chão" traduz bem a ideia de queda do lugar precioso que ocupávamos na vida de alguém.


Perder um amor é perder-se a si mesmo, como diz a psicanalista e autora de livros sobre relacionamentos Ana Suy. É ter que lidar com a desconstrução de um ideal amoroso e com a ferida narcísica de não sermos mais o objeto amado e, sim, pessoas reais com falhas e furos. Alguns até mesmo acreditam que se o amor acaba, é porque ele nunca existiu. A separação traz consigo os sentimentos mais primitivos de desamparo, que nos acompanham desde o nascimento e que aos poucos vão sendo contornados por aqueles que nos amam e cuidam, tornando a vida possível diante da notícia de que não somos completos.


E é justamente essa incompletude o que nos torna seres desejantes, segundo a tese lacaniana de que desejo é pura falta. Se na relação amorosa muitas vezes temos a ilusão de encontrar esta parte faltante, diante dos rompimentos temos a difícil tarefa de reconstruir a nós mesmos com toda a falta que é inerente à nossa existência e que nos mobiliza em direção aos nossos desejos.



Fontes utilizadas: KUSS, Ana Suy Sesarino. A gente mira no amor e acerta na solidão. 9. ed. São Paulo: Editora Planeta, Selo Paidós, 2022.


 
 
 

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