Resistências ao processo analítico
- Marilia Antunes
- 25 de ago. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 29 de abr.
Iniciar um processo de análise muitas vezes não é uma decisão simples. Seja por questões tão práticas quanto disponibilidade de tempo e investimento, ou porque simplesmente não é mesmo um exercício fácil olhar para o nosso próprio sofrimento. Memórias apagadas da infância, angústias impossíveis de serem nomeadas, situações traumáticas difíceis de serem elaboradas pelo nosso psiquismo diante de um excesso de excitação de afetos que nos silenciam.

Resistimos. Em sua definição semântica, a palavra remete ao ato ou efeito de resistir, propriedade de um corpo que reage contra a ação de outro corpo. Nos voltando à psicanálise, o conceito de resistência introduzido por Freud é definido em dois dicionários psicanalíticos como "o conjunto das reações de um analisando cujas manifestações, no contexto do tratamento, criam obstáculos ao desenrolar da análise" (Roudinesco & Plon, 1998, p. 659), ou "tudo o que nos atos e palavras do analisando, durante o tratamento psicanalítico, se opõe ao acesso deste ao seu inconsciente" (Laplanche & Pontalis, 1988, p. 458).
Como, então, ir de encontro a questões das quais tentamos escapar, mas que nos invadem abruptamente na forma de sintomas? Por vezes, a resistência impede até mesmo que o paciente procure tratamento, ou o leva a criar justificativas a nível consciente que o afastam da clínica. Em muitos casos, outros subterfúgios podem entrar em cena como uma tentativa de aplacar a angústia; sejam medicamentos, práticas religiosas ou a busca por soluções externas que distanciam cada vez mais as pessoas da origem de seus conflitos. A teoria psicanalítica parte do pressuposto de que há algo inconsciente em nós mesmos que desconhecemos e que nos leva a fazer escolhas ao longo da vida, muitas delas, fontes de profundo sofrimento.
Neste sentido, o processo de análise é sobre desvelar o inconsciente do indivíduo para que seus conflitos possam vir à tona e este possa lidar de forma mais saudável com suas próprias pulsões e desejos. É por isso que o espaço de análise deve ser um lugar de acolhimento, em que os pacientes se sintam plenamente à vontade para falar sobre o que lhes vier à mente, como propunha Freud na associação livre. Conteúdos reprimidos, pulsões e desejos perturbadores não expressos que retornam à consciência como medo, angústia, melancolia, fobias, ansiedade, obsessões, compulsões. É somente dando luz ao desconhecido que habita em nós que, na medida em que falamos, podemos encontrar a “cura pela fala” que se dá no encontro entre analisando e analista.
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